A criação de um grupo de trabalho que terá como foco central investigar a estrutura financeira das organizações criminosas que atuam no Rio de Janeiro foi acertada nesta terça-feira (29) entre autoridades do estado e do governo federal. A medida foi definida durante reunião para tratar dos episódios de violência registrados na semana passada, quando três inocentes foram mortos durante confronto entre policiais e organizações criminosas na Avenida Brasil, na zona norte da cidade.
O encontro contou com a presença de representantes das forças de segurança do Rio de Janeiro e da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério Justiça e da Segurança Pública (MJSP). O grupo de trabalho deverá iniciar suas atividades nos próximos dias.
“O foco maior aqui é exatamente a questão do território e a investigação que visa a atacar a estrutura financeira das organizações criminosas, que é o que a gente acha que vai ter um resultado positivo mais para a frente. Tirando a capacidade financeira dessas organizações, a gente tira a capacidade delas de tomada de território e de compra de armamento”, disse o secretário de Segurança Pública do estado do Rio, Victor dos Santos.
O secretário destacou que, embora também tenham sido discutidas algumas ações com efeito imediato, como o reforço do efetivo e o avanço em algumas frentes de investigações, os esforços do grupo de trabalho devem trazer principalmente resultados em médio e longo prazo.
O secretário nacional de Segurança Pública do MJSP, Mário Luiz Sarrubbo, destacou a integração entre o estado e o governo federal. “A ideia é traçarmos objetivos e um plano de trabalho que possa efetivamente ser estruturante e mudar um pouco essa realidade que nós temos, olhando para os territórios e pensando em retomada territorial.”
Os confrontos ocorridos na semana passada se deram em decorrência de uma operação policial na área que ficou conhecida como Complexo de Israel, um conjunto de comunidades situadas paralelamente à Avenida Brasil dominadas por organizações criminosas. Na ocasião, a Polícia Militar informou que a movimentação buscava reprimir o roubo de cargas. Hoje o secretário Victor dos Santos disse que o foco era retirar barricadas e acessar uma torre de telefonia para restabelecer o sinal bloqueado pelas organizações criminosas. Segundo Santos, cerca de 130 mil pessoas do entorno estavam sem acesso aos serviços das operadoras de celular.
De acordo com a Polícia Militar, a resistência das organizações criminosas na região da Cidade Alta foi incomum. A corporação admitiu posteriormente que foi surpreendida, já que as informações de inteligência não indicavam uma forte reação. O tiroteio provocou a interrupção do tráfego na Avenida Brasil e da circulação de trens, de ônibus e do BRT pela região. Escolas e postos de saúde foram fechados na região.
“Não era previsível que os criminosos atacariam pessoas inocentes, que atacariam um cidadão que estava a um quilômetro de distância do local da operação. Agora a gente sabe que isso é possível. Fica como lição aprendida e obviamente, nas próximas operações, isso será levado em conta”, disse Victor dos Santos.