Quase metade dos casos de demência no mundo poderiam ser prevenidos ou retardados ao evitar fatores de risco desde a infância até o fim da vida, conforme mostra um novo estudo apresentado pela The Lancet nesta quarta-feira (31) na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer (AAIC 2024).
Segundo a pesquisa, abordar 14 fatores de risco modificáveis — ou seja, que poderiam ser evitados com mudanças no estilo de vida ou tratamentos específicos — na infância e ao longo da vida poderia reduzir os casos de demência no mundo, contrariando as tendências de aumento da condição globalmente.
Com base nas últimas evidências disponíveis, o relatório mostra que 7% dos casos de demência estão associados ao colesterol ruim na meia-idade (40 anos), enquanto 2% dos casos estão relacionados à perda de visão não tratada na vida adulta.
Esses dois fatores foram somados aos outros 12 já identificados pela Comissão Lancet em 2020: níveis mais baixos de educação, deficiência auditiva, pressão alta, tabagismo, obesidade, depressão, sedentarismo, diabetes, consumo excessivo de álcool, lesão cerebral traumática, poluição do ar e isolamento social. Esses fatores foram associados a 40% de todos os casos de demência.
Segundo o novo estudo, a deficiência auditiva e o colesterol alto são os fatores de risco associados à maior proporção de pessoas que desenvolvem demência no mundo, juntamente com o menor nível educacional no início da vida e o isolamento social na vida adulta.
O relatório foi desenvolvido por 27 especialistas mundiais em demência e pede aos governos planos para lidar com os riscos ao longo da vida para a demência, argumentando que quanto mais cedo abordar e reduzir os fatores de risco, melhores serão os resultados no futuro.
Para isso, o documento descreve um conjunto de mudanças de políticas e estilo de vida para prevenir e gerenciar a demência.
“Nosso novo relatório revela que há muito mais que pode e deve ser feito para reduzir o risco de demência. Nunca é muito cedo ou muito tarde para agir, com oportunidades de causar impacto em qualquer fase da vida”, diz a autora principal do estudo, Gill Livingston, professora da University College London, no Reino Unido, em comunicado à imprensa.
“Agora temos evidências mais fortes de que uma exposição mais longa ao risco tem um efeito maior e que os riscos agem mais fortemente em pessoas vulneráveis. É por isso que é vital que redobremos os esforços preventivos em relação àqueles que mais precisam deles, incluindo aqueles em países de baixa e média renda e grupos socioeconômicos desfavorecidos. Os governos devem reduzir as desigualdades de risco tornando estilos de vida saudáveis o mais alcançáveis possível para todos”, completa.