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Brincadeiras com pipas são responsáveis por cerca de 500 acidentes por ano no Brasil

Com a chegada das férias escolares, as crianças acabam tendo mais tempo livre para brincar e, dentre essas brincadeiras, uma das mais famosas é a prática de empinar pipas.

Essa recreação acontece geralmente ao ar livre, nas ruas e até mesmo avenidas, onde as crianças transitam livremente, em alguns casos, manuseiam junto com a pipa uma linha cortante chamada “cerol”, que tem o objetivo de facilitar o corte das linhas dos adversários, aumentando assim a competição.

Os dados fornecidos pela Fundação Brazilian Kit Clube relatam que 10 pessoas morrem por ano no Brasil vítimas de ferimentos provocados pela linha revestida com vidro moído, “cerol” ou linha chilena. Um corte na veia jugular pode causar a morte de uma pessoa em poucos minutos.

Já a Associação Brasileira de Motociclistas – ABRAM, especifica que segundo os dados recolhidos,  no Brasil são mais de 100 acidentes por ano envolvendo motociclistas, sendo que 50% causam ferimentos graves  (cicatrizes ou mutilações) e 25% acidentes fatais.  A Associação estima que em dados atuais os acidentes anuais passam de 500, mantendo a mesma proporção acima.

Alerta

Segundo o Hospital Ferreira Machado, só neste ano de 2024, entre os meses de janeiro e maio, o hospital registrou 838 atendimentos de cortes contusos no geral. Os acidentes com pipas, especialmente envolvendo cerol, continuam sendo uma preocupação significativa na instituição.

Quando se trata dos ferimentos envolvendo este tipo de acidente com pipas, as lesões comuns incluem cortes e lacerações, que podem ser graves e exigir cuidados especializados ou até mesmo levar à morte.

Ana Paula Costa, cirurgiã geral do (HFM), menciona que em relação ao padrão das ocorrências de acidentes “não há uma faixa etária predominante registrada, mas tanto crianças, adolescentes quanto motociclistas são frequentemente afetados”.

Sobre o aumento dessas incidências no período de férias escolares, a Coordenadora da ala de pediatria do Hospital Geral de Guarus,  a médica Luna Rambaldi, esclarece que nessa época do ano, assim como nas férias escolares do final do ano, é muito comum observar um aumento considerável dos casos relacionados aos acidentes de infância.

“Os acidentes relacionados ao cerol são apenas mais um acidente nesse universo que envolve os acidentes da infância. De fato, existe um aumento da sua incidência nesses períodos de férias escolares. A gente sabe que isso acontece porque a criança uma vez afastada da escola, ela passa a ficar em casa, muitas vezes sem a supervisão de um adulto responsável, obviamente, uma criança nessa idade, ela não tem a menor condição de juízo, de irresponsabilidade, de autocuidado, de preservação da própria segurança. Então,  é exatamente por esse fato que esse tipo de situação de acidente acontece, porque não estão supervisionadas como deveriam.

Impacto no Trânsito

A maior preocupação da Guarda Civil Municipal (GCM), inicialmente, é com a fatalidade dos casos envolvendo acidentes com pipas. O orgão orienta que as pipas devem ser colocadas no ar em campos abertos e não em avenidas ou ruas com circulação de pessoas e veículos.

Outra orientação é que os motociclistas devem equipar as suas motocicletas com antenas e utilizar todos os equipamentos de segurança.

“A maioria dos casos noticiados é com as motocicletas, mas já foi identificado que podem ocorrer acidentes com veículos também, danificando um equipamento pequeno. O que pode acontecer também é ferir as mãos das pessoas que estão soltando pipas, os chamados pipeiros. As pessoas devem redobrar a atenção durante o período de férias”, menciona a Guarda Municipal de Campos.

Prejuízos na Rede Elétrica

De acordo com os dados da Enel, mais de 190 mil clientes foram impactados no primeiro semestre deste ano devido a danos na rede elétrica causados por pipas. As regiões mais afetadas incluem São Gonçalo, Lagos, Magé, Macaé e Serrana, onde chamados de emergência por falta de energia devido a pipas são frequentes durante as férias.

Neste ano, até agora, a Enel Rio atendeu mais de 1,4 mil ocorrências de danos na rede por pipas, 17% a mais em comparação com o mesmo período do ano passado.

De acordo com a Enel, a interrupção do fornecimento de energia causada por pipas pode ocorrer por diversas razões. Ainda segundo a empresa, além do risco de rompimento dos cabos, as linhas que ficam enroscadas na rede elétrica provocam desgaste na fiação, podendo ocasionar curtos-circuitos e risco de choque. Nesses casos, equipes da distribuidora são mobilizadas imediatamente para realizar os reparos necessários e substituir a fiação, a fim de restabelecer o serviço o mais breve possível.

“Com a chegada das férias escolares, a tendência é que chamados por falta de energia, ocasionada por pipas na rede, sofram um aumento considerável. Essas incidências, mesmo que de curta duração, geram grandes transtornos aos clientes, tanto na atividade comercial quanto na rotina das pessoas. Neste sentido, é importante reforçar os riscos de se empinar pipa próximo da rede elétrica e a necessidade de os pais orientarem as crianças e os adolescentes sobre os cuidados necessários, principalmente agora nesse período de férias”, afirma o diretor de Operação e Manutenção da Enel Distribuição Rio, José Luis Salas.

Medidas preventivas de segurança

Para garantir que a brincadeira ocorra de forma saudável e com segurança, a Enel Distribuição Rio, a Guarda Municipal de Campos dos Goytacazes e o Hospital Ferreira Machado compartilham dicas sobre a prática de empinar pipa:

  • Solte pipas apenas em espaços abertos e afastados da fiação elétrica, como parques e campos de futebol. Esta prática próxima da rede é extremamente perigosa, pois há o risco da linha ou da pipa enroscar nos fios e ocasionar descarga elétrica;
  • Não arremesse objetos nos fios nem tente resgatá-los, caso a pipa se enrosque na rede, postes ou antenas. Somente técnicos da distribuidora treinados para este trabalho, que exige o uso de equipamentos de segurança, estão aptos a manusear a rede;
  • Evite usar materiais metálicos, como o alumínio, na fabricação da pipa, pois conduzem eletricidade, aumentando a chance de choque elétrico, com risco de morte;
  • Evite a utilização de “rabiolas”, pois elas agarram nos fios elétricos, desligando o sistema e provocando choques, muitas vezes fatais;
  • Não solte pipas na chuva. Ela funciona como para-raios, conduzindo energia e podendo provocar acidentes fatais;
  • Não use cerol (pó de vidro com cola), pois ele corta os fios de alumínio ou de cobre, o que pode levar a choques por rompimentos de cabos;
  • Não use linha chilena, que possui poder de corte quatro vezes maior que o cerol tradicionalmente usado nas pipas. O risco de acidentes fatais é alto para pedestres e motociclistas, além de acentuar os danos à rede elétrica;
  • Acompanhe sempre crianças e adolescentes no momento da brincadeira.

Para motociclistas, recomenda-se:

  • Uso de capacetes fechados, são mais seguros.
  • Uso de antenas corta-pipa nos capacetes.
  • Uso de pescoceiras, dispositivos relativamente novos que protegem.

O que fazer em casos de acidentes

A primeira orientação em caso de acidente com linhas cortantes é chamar o Corpo de Bombeiros pelo número 193.

O segundo passo é tentar conter a hemorragia com uma compressão no local, que pode ser improvisada com as roupas da própria vítima, por exemplo. Caso haja condições, prefira utilizar panos limpos para fazer esta compressão.

Em caso de ferimentos no pescoço, a vítima deve tentar ficar imóvel para evitar perda de sangue. Se o barbante ainda estiver preso no corpo, a orientação é não tentar remover para evitar mais ferimentos.

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